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01 OCT 2018
Festival do Feijão Frade
Por Jornal Abarca
Em Vale de Gaviões, no concelho de Gavião, decorre todos os anos uma festa que reflecte as raízes deste povo: o Festival Gastronómico do Feijão Frade.
 
Ao entrarmos no recinto onde decorrem as oitavas jornadas gastronómicas do feijão frade de Ribeira da Margem, concelho de Gavião, absorvemos instantaneamente o espírito que junta as pessoas da aldeia. A disposição do recinto, onde várias bancas com mostras de produtos locais contornam o espaço que fronteia o palco, e que servirá para dançar mais tarde ao som da música convidam a uma visita à gastronomia e artesanato da região. Lá dentro, prepara-se a comida enquanto os mais impacientes já estão sentados à espera de jantar.
 
É inegável que esta festa pretende promover a terra através dos seus produtos. José Pio, presidente da Câmara Municipal do Gavião, assume directamente essa ideia: “Esta é uma aposta que o município faz em todas as freguesias”, lembrando a feira medieval em Belver, o festival Beat Fest na Comenda e a Mostra de Artesanato, Gastronomia e Actividades Económicas no Gavião e Atalaia.
 
Ao mesmo tempo que ajuda a promover os produtos locais, o evento perpetua uma tradição da freguesia. José Manuel Neves, presidente da Junta de Freguesia, lembra que “a tradição de realizar um almoço em torno do feijão frade”, produto importante na economia da região, “é algo muito antigo”. Nos últimos oito anos essa iniciativa ganhou outra dimensão com o apoio da autarquia, transformando-se em jornadas gastronómicas. “Tem corrido muito bem”, sublinha o autarca.
 
A freguesia de Margem conta com cerca de 800 habitantes e “tem muitos pequenos terrenos” ainda hoje explorados pelos habitantes para a produção de feijão frade. Apesar de ser uma festa do povo desta terra, José Manuel Neves garante que “vem muita gente de fora” e, por isso, “é para continuar com o apoio do município”. José Pio atesta: “Gostamos de ajudar e estamos dispostos sempre que é preciso”.
 
José Manuel Neves, na noite de abertura, mostrava-se ansioso pelo almoço do dia seguinte: “É a base deste evento”, relembrando a tradição antes das jornadas gastronómicas. “O feijão frade com bacalhau ou atum é espectacular”, garante.
 
Aproveitando o repto de José Manuel Neves, fomos até à cozinha conversar com quem melhor percebe do assunto. Ludovina Coelho e Rosinda Morgado são as cozinheiras de serviço e revelam as várias formas de confeccionar o produto: pode ser guisado com ovo escalfado, com bacalhau assado, com sardinha assada ou até, imagine-se, bolinhos de feijão frade. Ludovina diz que o seu prato preferido é com sardinha assada e salada mista enquanto Rosinda opta pelo prato com bacalhau assado. Os segredos dos cozinhados ficam entre as paredes daquela cozinha, mas fazem questão de sublinhar que “o feijão aqui utilizado é todo cultivado na freguesia”, e pode apresentar três caras: preta, verde ou branca.
 
Esta iniciativa junta a população da freguesia de Margem num evento que mistura artesanato, gastronomia, música e muita animação em torno da tradição maior da terra: o feijão frade.
 
Da terra para a terra
O feijão frade é uma planta de vagens semeada na terra e que, pelo seu valor nutritivo, era um dos pilares da dieta alimentar de grande parte das populações rurais em Portugal. Daí, por ventura, se tenha perpetuado na história de geração em geração.
 
Em Margem, o feijão frade nasce na terra e para a terra. Isto porque, se é verdade que a planta cresce na terra, também é um facto que é utilizada nestas jornadas gastronómicas como meio de angariação de fundos do Centro Social da terra. “Esta é uma ajuda muito importante que recebemos todos os anos”, refere Maria José Baltazar, directora-técnica do Centro Social de Margem, instituição que ajuda na organização do evento.
 
A principal fonte de receita do evento é, precisamente, o almoço que se costuma realizar ao sábado e cuja responsabilidade é do Centro Social de Margem. Por tradição, começa com uma sopa de panela confecionada com couves e carnes e, depois, os vários pratos com feijão frade, cuja “produção a que o novo Regadio veio dar segunda vida e que hoje se cultiva e vende com valor acrescentado”, como explica a página do município na internet.
 
Esta Instituição Particular de Solidariedade Social oferece aos seus utentes serviços de centro de dia, lar e apoio domiciliário.
 
“Gentes Agradecidas e Boas”
José Xavier Mouzinho da Silveira é uma das figuras carismáticas da história portuguesa. Nasceu em Castelo de Vide em 1780 e destacou-se no período da revolução liberal, tendo sido preso durante a abrilada, que antecipou a guerra civil entre absolutistas e liberais em Portugal.
 
Tinha uma forte ligação aos Açores – último reduto do liberalismo entre 1828 e 1834 – e deixou em seu testamento que gostaria de ser sepultado na ilha do Corvo ou, em alternativa, “no cemitério da freguesia da Margem, pertencente ao concelho de Gavião; são gentes agradecidas e boas”.
 
Deste modo, Mouzinho da Silveira está sepultado em Margem, terra de “gentes agradecidas e boas”. Como forma desse agradecimento, em frente ao edifício da Junta de Freguesia de Margem está edificado um busto em homenagem ao político, que faleceu em 1849.
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