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02 MAI 2020
REPORTAGEM - Comer Bem Protege
Por Jornal Abarca

Numa altura em que o mundo combate um vírus desconhecido, muitas narrativas têm sido construídas sobre a influência da alimentação na protecção do sistema imunitário. Verónica Paiva, bióloga com formação em naturopatia, ajuda-nos a desfazer os mitos e a entender como uma boa alimentação interfere na prevenção de doenças. 

“A cenoura faz bem aos olhos”, “os espinafres fazem-te forte como o Popeye” ou “come a laranja que tem vitamina C” como se essa fosse a cura para todos os males. A verdade é que na nossa infância ouvimos invariavelmente conselhos destes das nossas mães. Pela natureza da idade, raramente levamos isso a sério.

Contudo, é indissociável uma boa alimentação de um sistema imunitário mais protegido e melhor preparado para enfrentar algumas doenças. Com a pandemia da Covid-19 a assolar o mundo, a questão surge várias vezes: há alimentos que curam a doença? Curar é uma palavra forte e a falta de evidências pode levar as pessoas a enganos irreparáveis. Mas é factual que uma melhor alimentação ajuda a prevenir: “A Direcção Geral da Saúde (DGS) afirma que apesar de existir ainda pouca evidência científica sobre a relação entre a doença COVID-19 e a alimentação, sabe-se que uma boa nutrição e hidratação contribuem, de uma forma geral, para o melhor funcionamento do sistema imunitário e para uma melhor recuperação dos indivíduos em situação de doença”.

As palavras são de Verónica Paiva, 33 anos, bióloga com formação profissional em naturopatia e pós-graduação em cosmetologia que explica: “Os nutrientes contidos nos alimentos fornecem energia ao organismo, além de substâncias necessárias para o crescimento, manutenção e reconstituição dos tecidos e regulação dos processos fisiológicos”. Por isso, resume, “uma boa alimentação é a base de uma boa saúde e é essencial para a manutenção de um bom sistema imunitário”.

As explicações de Verónica, que além de formação na área de Cosmética Natural, Naturopatia e Educação Ambiental é produtora de Cosmética Natural Artesanal na sua empresa BioVó, são bastante sintéticas e elucidativas. “O sistema imunitário consiste num complexo sistema que actua como um exército secreto que se começa a preparar ainda antes de nascermos”, diz. “Quando somos atacados por invasores, o nosso organismo prepara mensageiros que levam as ordens às tropas para que se inicie o combate ao inimigo. No final, as tropas mantêm-se em reserva contra futuros ataques”, explica numa analogia interessante. “Todos os dias somos invadidos por inúmeros corpos estranhos ao nosso organismo, sendo que a nossa primeira barreira de defesa é a pele e as mucosas, que é apoiada pelo sistema linfático, que nos torna imunes à maioria das infecções”, esclarece

Verónica explica também como o nosso sistema imunitário consegue criar imunidade contra agentes invasores: “O nosso sistema imunitário ao contactar com os agentes patogénicos, grava a capacidade de actuar contra esse agente mais tarde se a infecção voltar, sendo numa segunda fase a resposta mais rápida e eficaz”.

É deste modo que a alimentação se torna fundamental no combate ao aparecimento de doenças e a razão pela qual uma boa alimentação representa um modo de vida mais saudável.

Ainda assim, Verónica Paiva alerta que “em relação ao novo coronavírus ainda não se sabe ao certo como funcionará esta imunidade” nem em termos de durabilidade, nem de eficácia em caso de uma nova infecção.

 

Que alimentos nos podem ajudar?
Importa, portanto, saber que alimentos são fundamentais no reforço do nosso sistema imunitário. Verónica explica que “ainda existe pouca evidência científica” na relação entre a alimentação e o reforço do nosso sistema imunitário relativamente à Covid-19.

Ainda assim, tal como para outras funções do nosso organismo e prevenção do aparecimento de outras doenças, “é necessária uma alimentação equilibrada com a presença de diferentes nutrientes, tais como os que fornecem energia (hidratos de carbono, proteínas e gorduras) e vitaminas e minerais (como as vitaminas A, B6, B9, B12, C e D e o cobre, ferro, selênio, zinco) e água”, acrescentando que “legumes, fruta, cereais e leguminosas são alimentos ricos em fibra, vitaminas, sais minerais e com baixa quantidade de gordura e devem por isso ser a base da alimentação”.

Alimentos ricos em Vitamina C, como as laranjas, evitam a morte das células do sistema imunitário, os cogumelos são ricos em antioxidantes, selénio e vitaminas do complexo B, as sementes de abóbora possuem zinco, um mineral que actua e regula a função das células do sistema imunitário, tal como os frutos secos. É um dos minerais fundamentais para o bom funcionamento do sistema imunitário, os alimentos fermentados, ricos em pró-bióticos como o iogurte e o quefir, também são úteis na resposta às inflamações no nosso organismo ou o alho que é igualmente apontado como um alimento muito útil por estimular a actividade celular do sistema imunitário.

A bióloga natural de Alcanena destaca ainda a importância da Vitamina D na prevenção contra doenças que provocam infecções, nomeadamente respiratórias, como a Covid-19. “O isolamento pode agravar a carência desta vitamina que também é sintetizada no nosso organismo através da luz solar”, explica. Assim é importante o reforço de alimentos como “os óleos de peixes gordos, como o bacalhau e o salmão, seguidos dos ovos e de outros produtos de origem animal”, exemplifica.

Verónica lembra, inclusive, que os nórdicos, apesar de estarem menos expostos ao sol, “têm menores níveis de carência desta vitamina, provavelmente pelo hábito que têm em fazer suplementação”. Verónica mostra curiosidade em perceber se este facto se relacionará com a menor incidência de casos de Covid-19 nos países do norte da Europa, ainda que neste momento seja prematuro tirar conclusões.

 

As medicinas alternativas podem ajudar
A naturopatia é uma das várias formas de tratamento classificadas como medicina alternativa, sendo muitas vezes desconsiderada pelos profissionais da medicina convencional.

Para Verónica Paiva esta pode ser a hora de olhar de outro modo para as medicinas alternativas. “Apesar das suas grandes diferenças, muitas terapias alternativas acreditam na capacidade de o organismo se curar a si próprio e no princípio de que a pessoa deve ser tratada como um todo, física, mental e espiritualmente. Esta abordagem holística da medicina é partilhada por alguns médicos convencionais, que a consideram uma forma de equilibrar a natureza de cada indivíduo”, explica.

O equilíbrio entre os vários tipos de medicina será, assim, o ideal na visão de Verónica: “Nunca devemos descurar uma em função da outra, existe cada vez mais médicos de medicina convencional a apoiar e a utilizar a medicina alternativa, assim como a incentivar os seus pacientes a melhores práticas para manutenção da sua saúde, quer seja através de uma alimentação mais equilibrada, assim como através da promoção da prática de exercício físico”.

De certo modo, Verónica mostra-se enfadada pelo facto de os profissionais de medicinas alternativas serem muitas vezes olhados de lado, vistos como se fossem charlatões ou perigosos para a prática de qualquer tipo de acção sobre a saúde do outro. Até porque, explica, nem todos os agentes de medicina alternativa pensam do mesmo modo e defendem as mesmas coisas. “Um dos temas que levanta alguma controvérsia é a vacinação. Apesar de o Programa Nacional de Vacinação, universal, gratuito e acessível a todas as pessoas residentes em Portugal, ter como principal objectivo garantir a protecção contra doenças com maior potencial de constituírem ameaças à saúde publica e individual, nem todas as pessoas o cumprem e tem crescido uma corrente de pessoas anti-vacinas”, lembra. 

Do mesmo modo que muitas pessoas anti-vacinas acreditam na medicina convencional, muitos apoiantes das medicinas alternativas consideram fundamentais as vacinas. Verónica lembra que tal como ela “muitos apoiantes das medicinas alternativas” reconhecem que “as vantagens na vacinação são muito superiores às desvantagens que possam existir na sua administração assim como os riscos da não vacinação”. Por isso, admite a curiosidade, “numa altura em que todo o mundo procura por uma vacina que ajude a combater esta doença que nos obrigou a parar, será interessante observar e estudar se o número de contestatários das vacinas irá ter tendência a diminuir” porque ficou agora “bem visível o risco que se corre quando uma doença se torna uma pandemia e fica descontrolada”, conclui.

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