O confinamento é uma condição anti-natural e que pode criar problemas psiquiátricos. Os portugueses vivem agora longe dos amigos, da família, da liberdade. Falámos com o Dr. António Bento e Ana Ferreira, psiquiatra e enfermeira no antigo Hospital Júlio de Matos, para percebermos quais os impactos desta quarentena na saúde mental dos portugueses. 

O psiquiatra acredita que é “perfeitamente possível que a pessoa comece a ficar muito mais introspectiva”. Daí ao medo é um pequeno passo: “O medo está a contagiar-nos a todos, porque o perigo é real e isto está para durar”. (...)

Admitindo que “ainda é cedo para se tirar conclusões”, António Bento receia o aumento do consumo de fármacos e substâncias ilícitas: “Há uma tendência para nos agarrarmos a algum vício de forma a tentar esconder aquilo que nos afecta” porque “o sofrimento é uma coisa terrível”. Acredita que “vai haver muito sofrimento mental e isso vai-se reflectir num aumento do consumo de tranquilizantes”. Para António Bento o ser humano tem duas funções “que não conseguimos parar: respirar e pensar. Às vezes as pessoas dizem ‘não penses nisso’. Mas como é que se pára de pensar?”, questiona. (...)

Ana Ferreira quer “acreditar que isto tudo tem um lado positivo” e que isso fará com que “as pessoas olhem para o mundo de forma diferente” dando “mais valor às pequenas coisas do dia-a-dia que tínhamos como garantidas como sair à rua ou ir beber um café com um amigo”. (...)

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