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02 NOV 2020
REPORTAGEM: 25 de Novembro - "O dia que nunca acabou"
Por Jornal Abarca

Em 1975 Portugal vivia um clima de instabilidade social, política e militar denominado PREC: Processo Revolucionário em Curso. O fim desse clima aconteceu com a tentativa de golpe militar de 25 de Novembro de 1975, cumprem-se agora 45 anos. As marcas dessa época serão eternas.

O dia 25 de Novembro de 1975 mudou para sempre o destino de Portugal e a efeméride é incontornável. Após o 25 de Abril houve vários golpes tentados, como o 11 de Março, que geraram um clima de guerra civil em Portugal. A partir do “verão quente” de 1975 o ambiente aqueceu sobretudo contra os comunistas, inclusive com bombas a destruírem sedes do PCP.

A luta opôs a esquerda militar, mais extremista, com ligações a Vasco Gonçalves e Otelo Saraiva de Carvalho, que apoiavam a via revolucionária, contra as forças mais moderadas, da esquerda à direita, incluindo o PS e o PPD, “com o curioso apoio do MRPP”, como ressalva Gabriel de Oliveira Feitor.

O historiador e cronista do abarca, caracteriza o 25 de Novembro como “o clímax de um período de intensa crispação política”. Falamos de uma época em que se tornaram famosas as tiradas do então Primeiro Ministro, o almirante Pinheiro de Azevedo. A 12 de Novembro perto de 100 mil operários cercam a Assembleia da República e o Governo declara-se… em greve. Sobre o sequestro, Pinheiro de Azevedo foi cáustico como sempre: “Não gosto, é uma coisa que me chateia!”. A 18 de Novembro, Octávio Pato, do PCP, discursa em São Bento: “O nosso país e a Revolução portuguesa atravessam um momento crucial. (…) no Portugal de hoje não é possível governar sem o PCP, e muito menos contra o PCP”.

Gabriel de Oliveira Feitor reconhece “que se verificaram alguns avanços sociais naquele ano, mas os abusos provocados pelo sectarismo e cegueira ideológica de uns e pela ingenuidade de outros levados por aqueles, determinaram uma convulsão social que quase chegou à guerra civil”.

 

O dia da “dramática aventura”
As palavras são do General Costa Gomes, Presidente do Conselho da Revolução à data, e reflectem o peso da data na História. A substituição de Otelo por Vasco Lourenço como comandante da Região Militar de Lisboa e a ameaça do general Morais da Silva em dissolver o regimento de paraquedistas tornou inevitável que a panela transbordasse.

Os paraquedistas ocuparam então várias bases militares – sob ordens de quem é motivo de controvérsia e um mistério por resolver –, inclusive a de Tancos, e isso serviu de pretexto para que o grupo dos moderados pusesse em acção o plano que preparava há meses caso fosse necessário responder à extrema-esquerda. 

Pela única vez na história é decretado o Estado de Sítio em Lisboa. Com Otelo retido no Palácio de Belém e impossibilitado de contactar o COPCON, os confrontos no dia 26 de Novembro descontrolamse. O Regimento de Comandos da Amadora cerca as instalações da Polícia Militar em Lisboa, ocupada pelos revoltosos e na troca de tiros morrem três militares.

Neste cenário, entra em acção como Coordenador Operacional do Grupo dos Nove o General Ramalho Eanes que procura convencer Costa Gomes a aceitar o plano do grupo dos moderados. Vendo como impossível as suas tentativas de dissuadir a extrema-esquerda do plano revoltoso, acaba por aceder. 

Terminava, assim, o PREC e levava com ele alguns dos dias mais agitados da história nacional. Gabriel de Oliveira Feitor acredita que o 25 de Novembro foi “fundamental, pelo menos, para parar essa escalada” de violência e “inserir Portugal nos caminhos das democracias pluralistas”.

 

Um combate ideológico
O historiador, natural de Alcanena, reflecte que “essencialmente foi o fim do confronto entre dois projectos políticos totalmente diferentes: um de democracia de tipo popular, na órbita soviética ou não, e outro de democracia pluralista ocidental”. Lembra que “ninguém foi excluído do processo democrático” e valoriza “o papel de Melo Antunes que foi fundamental para a não ilegalização do PCP como alguns sectores da direita desejavam. Imperou a moderação e o bom senso”.

Ainda assim, o combate ideológico resiste ao tempo e, por isso, intitulámos este texto como “o dia que nunca terminou”. Em 2019, na passagem dos 44 anos, a fricção ficou bem patente com a direita a exigir homenagens aos militares do 25 de Novembro e os partidos mais à esquerda a oporem-se.

O Iniciativa Liberal, por exemplo, considerou “cobardia histórica” as recusas em comemorar a data. Por seu turno, Vasco Lourenço, que pertencia ao Grupo dos Nove, ligado à ala moderada, mostrouse “contra a comemoração do 25 de Novembro” porque “os acontecimentos e as datas que unem devem ser comemorados, caso do 25 de Abril, e os acontecimentos e as datas que dividem não o devem ser, mas apenas recordados para com eles aprendermos”.

Nas várias moções apresentadas a tendência varia pouco: CDS, PSD, Iniciativa Liberal e Chega votam a favor; CDU e BE votam contra; LIVRE e PAN abstêm-se; e o PS mostra uma curiosa divergência: há deputados que votam a favor, outros que votam contra, mas a maioria prefere não se pronunciar. 

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