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08 FEV 2021
EDITORIAL | "Mudam-se os tempos / Mudam-se as vontades", por Margarida Trincão
Por Jornal Abarca

As maiores desculpas por utilizar para este editorial o título de um soneto de Camões. No entanto, todo o poema expressa o que vivemos. A angústia, o desentendimento destes tempos que nos confinam tanto física, como mentalmente. Esperemos conseguir também chegar a “Todo o mundo é composto de mudança / Tomando sempre novas qualidades”.

Nunca senti uma guerra ao vivo dentro do país onde nasci e resido. Claro que vivi a guerra em África, com sentimento e dor, mas aqui neste rectângulo não havia metralhadoras, nem campos minados...

Há quase um ano que a vida mudou. Os matemáticos não se enganaram nos cálculos e o pior, dizem, está para chegar este mês. Depois... Bom depois outros ventos soprarão e, sem qualquer espécie de pessimismo, serão fortes. Por ora, assiste-se a pseudonotícias que transformam os problemas de saúde em espectáculo, é lamentável. Vou seguindo os números sem ouvir comentários e novos recordes batidos.

Isto para não falar, em eloquentes discursos de alguns dos nossos dirigentes que não consigo perceber. Deve ser iliteracia pelo meu lado... Seria só um anedotário se não estivesse em causa a saúde de um povo. 

Por falar em políticos, uma outra doença se abateu sobre o país. Andamos todos distraídos? Ou perdemos a memória? Um amigo de longa data, judoca e atleta olímpico, um dia deu-me uma lição de mestre: “No judo o adversário nunca se empurra, puxa-se para cair com mais força”. Que pena, políticos batidos não conheçam ou tenham esquecido a máxima e se deixassem ser puxados por um adversário arruaceiro, provocador, mal educado, pertecente a uma elite de “homens de bem” enviado por Deus.

Deus nos livre das auto-denominadas elites de “homens de bem”, que se arvoaram em defensores da justiça e segregam os outros enviando-os para guetos, pela cor da pele, pela cultura, pela orientação sexual. De onde saiu este “enviado divino”? 

Tem pai, tem mãe e é fruto de todos nós. Nós que consentimos calados tendo como certo e inabalável algo que custou muitas vidas e muita dor. A democracia não é um sistema inviolável e a liberdade não caiu do céu.

“O tempo cobre o chão de verde manto / Que já coberto foi de neve fria/ E enfim converte em choro o doce canto” “E afora este mudar-se cada dia/ Outra mudança faz de mor espanto/ Que não se muda já como soía”. 

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, de Luís de Camões.

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