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18 MAI 2021
ABRANTES | Jorge Ferreira Dias escreveu livro durante a passagem pela prisão
Por Jornal Abarca

Jorge Ferreira Dias, 65 anos, que há mais de uma década enfrenta um litígio com a Câmara Municipal de Abrantes, escreveu um livro durante a sua passagem pela prisão. No dia 22 de Dezembro de 2020, após alegadamente ter agredido o presidente da autarquia, Manuel Jorge Valamatos, o antigo construtor, outrora “o homem mais rico de Abrantes”, acabou por ser detido a apenas três dias do Natal: “ Tinha 0,60 cêntimos no bolso e nem um chocolate podia comprar ao meu neto.  Revoltante para quem já teve um património de 8 milhões”.

Durante os 23 dias que passou na cadeia de Leiria, escreveu “As Noites Mais Longas da Minha Vida”. Na obra, que caracteriza como o “Testemunho do Recluso 380/9044 - Cela 7 - Pavilhão 1 do Estabelecimento Prisional de Leiria”, relata alguns momentos difíceis por que passou.

A obra, diz, é dedicada “ao meu neto, Duarte Jorge Lopes Ferreira, ao meu filho Paulo Jorge Dias Ferreira, à minha esposa Maria Joaquina Rosa Dias Costa Ferreira, ao Dinis Maria Lopes Romijo e à minha nora Juliana Serrano Lopes, que foram as pessoas que mais sofreram com as consequências deste que se considera um preso político, perseguido há 30 anos”.

 

LEIA AQUI ALGUMAS PASSAGENS DO LIVRO:

I

“O que me levou a escrever este livro, para  além de querer contar a minha história, foi o momento que vivenciei no átrio do Tribunal de Santarém, onde para além de mim se encontrava a minha mulher, o meu filho e o meu neto de 2 anos, Duarte Jorge que, a certo momento, me perguntou do alto da sua inocência:
- Ó avô, o que é que estás aqui a fazer?
Não respondi de imediato. Como não o fiz, em seguida agarrou-se a mim,  apertou-me e, intuitivamente, dei-lhe a beijar uma imagem de uma santinha, Nossa Sra. Rainha da Paz, que me acompanha sempre. Meio de longe beijou-a, a seguir beijou-me a mim e eu disse-lhe:
- Vou para a cadeia.
Ficou a olhar para mim, assustado.
Chorámos os quatro.
Este episódio, por mais anos que viva, não vou mais esquecer”.

 

II
“Durante mais de 30 anos foram-me pedidas várias verbas (subornos)  e nunca acedi. Paguei “a fatura” por ser um homem íntegro, numa história complexa e que, por o ser, muitos parecem não querer entender.

 

III
Estes políticos favoreceram outras empresas que os subornaram durante muitos anos. Se eu tivesse “entrado” com muitos milhares tudo me tinham resolvido. Mas eu não compactuo nem nunca compactuarei com corrupção. Sou um homem honesto, com princípios, nada me move contra ninguém. Apenas luto pelo que é meu e foi conquistado com muito trabalho. Tudo perdi”.

 

IV
“Recordo que depois dos acontecimentos da Pirâmide os agentes mandaram-me embora. Saí com eles para a rua e nisto, já vou a meio do edifício, chega o comissário que depois de estar a conversar com os intervenientes da Câmara vem ter comigo e os agentes e diz para eles me levarem para o posto porque eu estava detido”.

 

V
“Recordo que passou o vídeo do que se tinha acontecido na reunião de câmara e que o mesmo só mostrou o início, cortaram quase tudo. Só ficou a minha voz sem imagens”.

 

VI
“Nisto, ouço um recluso a gritar, a chamar pelo guarda.
- “Acudam-me, acudam-me”.
Vem o guarda e começou a bater na porta. E diz:- As primeiras vezes dá sempre nisto.
O recluso pede ao guarda:
- Chame o médico, chame o médico!
Não sei se o levaram, mas já não houve mais barulho. Passaram, pelas minhas contas, 2 horas. O recluso volta novamente a gritar:
- Senhor guarda, acuda-me!
E começou a bater na porta. Gera-se uma grande confusão no interior da cadeia. Há muita gente a falar e a gritar”.

 

VII

“Isto porque os psiquiatras do Hospital de Tomar me disseram que “os grandes heróis todos foram perseguidos, presos e maltratados”, mas que depois a história deu-lhes razão”.

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