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15 NOV 2021
OPINIÃO | "A visão do amado", por Anabela Ferreira
Por Jornal Abarca

A escolha de quem se ama depende de nós? Depende dos outros? Baseia-se nos conceitos que a nossa cultura e sociedade nos transmite e até impõe, ou, pelo contrário, tem como base a nossa relutância em seguir essas normas e ideias que a família, o grupo dos pares e, em geral, o nosso grupo social nos transmite?

Quando se fala de sentimentos, muitas vezes, ouve-se a expressão “É complicado” que é apenas uma forma corriqueira de dizer que se trata de uma área complexa e múltipla. É frequente, por sugestão ou para agrado dos outros, as pessoas seguirem aquilo que seria o mais expectável para a escolha do outro, do companheiro. Contudo, também é sabido, como diz o povo, que “o fruto proibido é sempre o mais apetecido”, ou seja, muitas vezes a dificuldade, a oposição, faz frutificar um sentimento que, numa situação normal, provavelmente não teria vingado.

Portanto, se, por um lado, temos quem se acomode e siga o que é tido como normal, norma, comum, expectável, por outro lado, também é igualmente verdade que reside na proibição e entraves muita da vontade de persistir…

Ora, o mais comum é os pais expressarem, de imediato, a sua posição emitindo opiniões acerca da pessoa em causa e da sua escolha. Quanto a mim, nada mais errado. Da aprovação pode vir o reforço da decisão, mas também o sentir-se preso a um sentimento que afinal podia ser só algo mais ou menos superficial e que, depois de tanto elogio, pode descambar em sentimento de obrigação e prisão. O inverso também é verdadeiro. Se os pais ao emitirem a sua opinião se pronunciarem contra um sentimento, tanto pode conduzir ao afastamento por acatamento das sugestões parentais, como, pelo contrário, ao reforço deste na contrariedade. Suponho que refiro os pais, mas se passará aproximadamente o mesmo em relação às opiniões difundidas pelo grupo dos pares que até é mais tido em conta na generalidade dos jovens.

Quando nos surge alguém que desperta a nossa curiosidade, interesse, atenção, temos logo à partida a condicionante “outros”. Como verão os outros esta pessoa que, de alguma forma, escolho. Sabemos, de antemão, quais serão as objeções de várias dessas pessoas ou, pelo contrário, os aplausos e aprovações de outras.

Apesar de quem decide ser sempre o próprio indivíduo, seria ingenuidade pensar que estas, chamemos-lhe variantes, não condicionam as nossas escolhas de forma mais ou menos consciente.

O que desperta esse interesse? Pode ser uma música, um reflexo do cabelo, um tom específico de voz, o cheiro da pele, um gesto de carinho ou atenção, uma atitude, um cuidado, uma preocupação… E para que este sentimento puro, cristalino, termine? Ah, bom, creio que também basta um tom de voz dissonante, o colocar-se num pedestal como o Rei Sol no centro do universo, o revelar de uma hipocrisia, o tentar fazer-nos optar ou com que nós sejamos outro que não nós próprios, mas aquilo que gostaria que nós fossemos, uma incúria na rega da planta… e a planta seca.

No fundo, podemos ou não concordar com as escolhas dos outros, tal como os outros muitas vezes não concordarão com as nossas escolhas. Contudo, é fundamental saber respeitar as decisões alheias, pois, no fim de contas, pode ser a nossa perspetiva que está menos correta ou incompleta. Muitas vezes fundamentamos, quer escolhas, quer críticas positivas e negativas às escolhas dos outros, em verdades parciais. Ninguém é detentor da verdade absoluta e todos nos podemos equivocar. Sigamos o nosso caminho e deixemos cada um dos outros seguir o seu trilho. Afinal, no fim do dia, vale mais arrependermo-nos do que fizemos do que daquilo que não fizemos.

Como por vezes ocorre, deixo aqui uma sugestão: “If it’s love” de Sting.

No final, seja e deixe ser.

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