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19 FEV 2022
OPINIÃO | "Esta seca que nos consome", por Armando Fernandes
Por Jornal Abarca

O escritor John Steinbeck numa das suas obras-primas, A Um Deus Desconhecido, retratou genialmente e cruamente os efeitos da seca no sul da América, o mesmo fez Erskine Caldwell em A jeira de Deus. Nessas duas obras revelam-se as facetas do desespero, da angústia, do sentimento da impotência Homem ante a escassez de chuva, a qual significa fome, doença, miséria e morte nas terras do Tio Sam.

Para início desta crónica, infelizmente, podia citar milhares de outros escritos, desde a Antiguidade Clássica até aos nossos dias tem sido a frequência de secas onde os seus efeitos são terríveis para todos os seres vivos, animais e vegetais. Se alargarmos as nefastas consequências ao universo dos minerais então os prejuízos e o avanço da ruína são muito maiores.

O Mundo está a revelar-se mais escalavrado, mais desertificado, onde outrora brotou o leite e o mel os vergéis e oásis da fartura foram substituídos por campo de cardos e abrolhos onde se acoitam no meio de arbustos daninhos predadores que inspiraram Rommnel o astucioso general nazi que obteve o cognome de raposa do deserto.

A falta de água tem motivado os cientistas a estudarem a forma de combater a seca que nos atormenta, pois como os meninos pequenos sabem por ignara experiência própria quão essencial é para as suas vidas. Água é vida podemos ler nos folhetos a pedirem aos mais velhos, a todos para pouparem água, para racionalizarem o seu consumo, para a considerarmos elemento estratégico de primeiro nível.

Fugindo dos fundamentalistas como o velho Diabo foge da cruz (os diabos e diabretes mais novos fingem não a ver), obrigo-me a soltar sarcástica gargalhada quando vejo e ouço a missionária ortodoxa proprietária de produções intensivas em túnel (sorvedouros de água), por que a senhora pratica a recomendação de Frei Tomás falando mansinho figura angelical incapaz de praticar um pecado mesmo venial na poupança de água.

Ora, o grande dilema reside no todos sabermos da falta do precioso líquido, no entanto, sem aparente remorso, desde as suiniculturas até às celuloses, passando por todos nós derramamos lágrimas de crocodilo enquanto, desnecessariamente, perdemos litros e litros de água no nosso quotidiano.

A guerra pela posse e desfrute da água está a ser levada a cabo subterraneamente, astutamente, sendo na actualidade um negócio de muitos milhares de milhões, se o leitor visitar um país árabe ou africano logo perceberá a dita indústria da água.

Estamos a caminhar para o pináculo do Inverno, a seca ameaça 94% do nosso território, a carestia não suscitou grandes e profundos debates, a cousa patinou nas frases feitas e adjectivos ruidosos desprovidos de efeito, enquanto houver água nas torneiras e nas garrafas de vidro ou plástico poucos cogitam relativamente a tão pertinente causa.

Um famoso negociante de vinhos terá desabafado rotundo de malícia: «enquanto houver água no rio Tejo, não faltará vinho em Lisboa». Só que a água já falta (há anos) na outrora gorda e reluzente corda de água: inodora, insípida e incolor fonte de vital/vitalidade.

Um escritor português (Manuel Ferreira) professor nas escolas regimentais pedia aos magalas em busca do diploma da 4.ª classe para fazerem uma redacção sobre a água. Todos se esforçavam em descrever as suas imensas qualidades. Nas aulas de aferição das redacções o autor deHora Di Bai, comentava irónico: há quem diga que serve para beber!  

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