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20 SET 2022
OPINIÃO | "O reaparecimento de Marte", por Máximo Ferreira
Por Jornal Abarca

Os planetas receberam essa designação - derivada do termo grego que significando “astro errante” ou “vagabundo” – por, na verdade, serem vistos em posições diversas sobre o pano de fundo constituído pela esfera celeste. Mesmo quando se pensava que todos eles (e também o “firmamento”) se moviam em torno da Terra, era percetível a rapidez de uns relativamente à lentidão de outros.

Destronada a Terra do “centro do mundo”, pela confirmação da veracidade das conclusões de Copérnico (em meados do século XVI) que colocavam o Sol na posição central do Universo, os observadores terrestres continuaram a ver os planetas a deslocarem-se em relação às estrelas, tornando-se mais fácil fazer previsões da posição que cada um deles ocuparia em determinada data futura. Conjugando as alterações do céu observável em cada data (resultantes do movimento da Terra em volta do Sol) com o movimento próprio de cada planeta, a sua visibilidade – ao princípio das noites, por exemplo – vai-se alterando de ano para ano.

Marte, que no ano passado, por esta data, não era observável por se encontrar “no outro lado do Sol” ou “em conjunção com o Sol” (como gostam de dizer os astrónomos), surge nos lados de Este – neste mês de setembro – um pouco antes da meia noite e ficará visível até ao nascer do Sol. Durante quase todo o tempo em que se encontra acima do nosso horizonte tem a companhia dos outros dois planetas que – girando em volta do Sol em órbitas exteriores à do “planeta vermelho” – se deslocam bem mais lentamente. De facto, Júpiter só em 2034 voltará à posição da esfera celeste em que se encontra agora, ou seja, daqui a doze anos, o tempo que gasta para dar uma volta ao Sol. O outro companheiro – Saturno – orbita o Sol a uma distância muito superior à de Júpiter e, por isso, tem uma translação mais lenta, gastando quase trinta anos para voltar à mesma posição.

Como resultado desta “dança” dos planetas em relação às estrelas – as quais, durante uma vida humana, praticamente não alteram as suas posições relativas – o céu que se observa em certa data de cada ano, a uma determinada hora, é sempre o mesmo (se considerarmos apenas as estrelas), mas… os planetas estarão projetados sobre estrelas e constelações diferentes. Por exemplo, o reaparecimento de Marte, no horizonte a Este, por volta da meia noite de finais de setembro, não se repetirá no próximo ano, dado que daqui a doze meses esse planeta voltará a estar “do lado de lá do Sol” e, por isso, não será observável nesta época.

A representação do céu observável ao princípio das noites deste mês (deste ano), constitui um desafio aos leitores para que, com ela, comecem por identificar algumas das estrelas que ocupam a região da esfera celeste em que estão agora os três planetas exteriores à Terra. É sabido que elas manterão as suas posições relativas durante as nossas vidas, por mais longas que sejam. Altair, Vega e Deneb constituirão sempre um triângulo, enquanto Fomalhaut e Aldebaran serão sempre vistas em posição paralela ao horizonte. Capella – a sexta estrela mais brilhante de todo o céu (com brilho ligeiramente inferior ao de Vega) - está em cima, à esquerda, e tem à sua direita a estrela Mirfak, a mais brilhante da constelação do Perseu. A observação regular (apenas alguns dias de intervalo) desta parte do céu – aproximadamente à mesma hora do princípio de cada noite – permitirá perceber como o deslocamento de Marte, em relação a algumas das estrelas referidas, é notório ao fim de uma ou duas semanas, enquanto Júpiter mal se move e Saturno só ao fim de alguns meses dará sinais de se ter deslocado. 

O mês de setembro é ainda “tempo de férias” para muitas pessoas e época de temperaturas agradáveis para todas as que gostam de “tempo quente”. Dez ou quinze minutos ao ar livre, a olhar o céu, no princípio de uma noite, constitui momento de tranquilidade na contemplação de brilho e cores de estrelas, ou na observação da passagem de um satélite artificial ou, quem sabe, de uma “estrela cadente”. Havendo possibilidade de participar numa das atividades que ainda decorrem em quase todo o país para observar o céu através de telescópios, será interessante experimentar a emoção de ver Saturno com anéis, Júpiter rodeado de luas e o pequeno “disco” de Marte com coloração avermelhada, muitas vezes com regiões de cores irregulares.

 

 

 

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