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01 JAN 2009
HÉLDER RODRIGUES LOPES: "QUERO FALAR COM TODA A GENTE"
Por MARGARIDA TRINCÃO

 

Define-se como um “homem de causas” e nunca desiste dos seus propósitos. Para a Associação Humanitária dos Dadores de Sangue da Freguesia do Tramagal traz uma mão cheia de projectos, o primeiro dos quais, uma unidade de Reabilitação, estará em funcionamento antes do próximo verão. 

 

Fala com as mãos, com os olhos, com gestos largos... E fala, entusiasmado com o novo desafio a que se propôs e para o qual foi eleito. Hélder Rodrigues Lopes, 45 anos, psicólogo clínico, natural de Faro, deixou o Algarve há dois anos e tem um apreço muito especial pelo Tramagal.

“Foi o meu sogro, Luís Mota Lopes, um sábio, um homem à frente do seu tempo, que um dia me perguntou porque é que não vínhamos para o Tramagal. Fiquei a pensar no assunto e decidimos vir”. A mulher, Isabel Lopes, é fisiatra, na área da Neurologia no hospital de Tomar e Hélder Rodrigues Lopes trabalha como psicólogo na nova unidade de Cuidados Paliativos do mesmo hospital do Centro Hospitalar do Médio Tejo.

“Eu e o meu sogro dávamos grandes passeios pelo Tramagal. Ele contava-me a história desta terra, aprendi muito com ele... Como precisava de me integrar, fiz-me sócio da Associação”. António Contente, ex-presidente da Associação e actual vice-presidente, convidou-o para o almoço de aniversário e lançou-lhe o desafio: “Você é que era um bom homem para agarrar a Associação”. “Como não costumo dizer não, nem fazer-me caro, aceitei, com a condição do sr. Contente ficar comigo. Gosto de aprender com os mais velhos e já tive uma experiência assim quando estive na secção de ginástica do Sporting Clube Farense. Por outro lado, tive um forte apoio do presidente do Instituto do Sangue, que já conhecia de um congresso do PS”. 

No dia da tomada de posse, António Contente entregou ao novo director os vários livros que escreveu durante os 18 anos que presidiu à Associação de Dadores. “Já os li e reli e pedi também os mapas dos gráficos para diariamente ver o que faço. Todos os dias, tenho que acrescentar qualquer coisa. É um projecto difícil, mas muito estimulante. Eu sou uma pessoa de causas”.

A Psicologia não foi a sua primeira opção. Hélder Rodrigues Lopes quis ingressar na Força Aérea logo aos 16 anos. “Fugi de casa, mas o meu pai foi buscar-me à estação da CP. Foi um trauma”. Dois anos depois, inscreveu-se no serviço militar e foi para a Força Aérea na esperança de ser técnico de operações de voo ou controlador aéreo. “Não consegui porque me faltou o factor C (cunha)”. Um familiar incentivou-o a tirar o curso de técnico de operações de voo. “Fiquei todo contente porque ia mexer em várias áreas, meteorologia, informática, planificação, gestão de frotas, muito aliciante e tinha muita adrenalina porque era uma companhia charter e tudo contava”. 
Mas a companhia fechou anos depois e Hélder Rodrigues Lopes ficou no desemprego, como todos os seus colegas. “Caí a pique. Tive que mudar de vida e inscrevi-me em Psicologia na INUAF (Universidade Privada do Algarve), em Loulé”.

Os anos que passou na aviação, deixaram-lhe grandes ensinamentos. “A aviação ensinou-me que os aviões não podem ficar no ar. Têm um destino e para esse destino têm três alternativas, tenho conduzido a minha vida sempre assim. Trabalho com datas e vou construindo alternativas, uma mais perto, outra menos e outra mais longe. Mas o avião lá em cima não pode ficar”.

Dentro desta linha estabeleceu a data de 28 de Março – dia do aniversário da mulher – para inaugurar a valência de Reabilitação na Associação de Dadores de Sangue. “A Reabilitação é a menina dos meus olhos e é para começar já. Quero mostrar que entrei com força e fé”.

Segundo explicou “o projecto está forte”. “A Reabilitação é uma área muito cara fora da Segurança Social, tem que haver comparticipações do Estado, que estavam fechadas há muitos anos. Agora vai abrindo a conta-gotas e mediante a eficiência e a justificação. Ferreira do Zêzere já tem um projecto e quando o deles for aprovado o nosso também será”, esclarece e acrescenta: “Como trabalho com datas, estabeleci a meta de 28 de Março, mas vai ser difícil. Apontei Março para não adormecer, chegando a finais de Fevereiro, farei a reavaliação das coisas e será marcada a data decisiva, mas é para este ano e de certeza absoluta antes do Verão”.

Para além da Reabilitação, o actual presidente dos Dadores de Sangue tem mais ideias. “Por onde passo tenho obrigação de fazer sempre mais. Não sou lunático, mas tenho muitas ideias e orgulho-me muito de ter concretizado algumas delas”. 

Os projectos passam pelos cuidados de saúde e por uma forte ligação à população, às suas tradições e ao associativismo. “São projectos na área da saúde e lúdicos.”

Na área da saúde, tenciona criar uma unidade de Cuidados Paliativos ou Cuidados Integrados, “à medida da terra e da região. É um projecto para pensar e que ficará concluído no final do mandato. A Associação vai diversificar mais as suas valências. Temos uma nova médica de clínica geral e estamos em contacto com um otorrino, um urologista e um dermatologista”. 

Outra das apostas é aumentar o número de sócios. A Associação tem cerca de 1300 associados que pagam mensalmente uma cota de 50 cêntimos. “E quero muito participar na festa do 15 de Agosto, quero reunir-me com as pessoas da organização e dar um mão muito forte”.

A participação na festa é apenas um exemplo. Hélder Rodrigues Lopes quer que a Associação esteja presente e dinamize a sociedade tramagalense. “Queremos incrementar e desenvolver o protocolo que temos com as escolas, fazer encontros com os pais para falar de várias coisas: Processo de Bolonha, novas metodologias de estudo e ensino e muitas outras coisas”.

Por outro lado, tenciona estabelecer encontros com todas as associações do Tramagal: “Não quero ocupar as áreas de cada uma, mas gostaria muito de participar para fortificar o associativismo. Incomoda-me bastante ouvir que o Tramagal já foi isto e aquilo e continuamos todos com as mãos dentro das algibeiras. Tramagal esteve muito avançada para o seu tempo, mais do que Faro donde sou natural. Com a democracia e todos os acertos sociais regrediu. Há um défice de associativismo, a televisão dá-nos tudo. O tempo do meu pai era muito mais rico. Quando tinha os meus oito anos, a televisão só se ligava para ver o telejornal e o festival da canção e a minha casa estava sempre cheia de gente. O meu pai era um declamador, contava anedotas e a casa tinha sempre 20 ou 30 pessoas. Eu cresci assim”. 

Outro dos seus desejos é conhecer, ouvir e atender as pessoas do Tramagal: “Ponha lá no seu jornal, em letras bem grandes, que eu gostaria de falar com toda a gente do Tramagal. Pedi para me deixarem criar o Dia do Cidadão do Tramagal. As pessoas inscrevem-se e vêm falar comigo. Queria muito falar com as pessoas da terra para me dizerem o que gostariam de ter na associação. Para dizerem o que está mal, o que está bem. Venham desabafar. Sou um entusiasta e entusiasmo-me com as coisas, sou um homem de causas e sempre ouvi as pessoas. É essa metodologia que quero trazer para aqui”.

Hélder Rodrigues Lopes, sportinguista e PS assumido também já entrou na vida política. “Fui vereador da Cultura da Câmara de Faro durante seis segundos. Na primeira eleição de Luís Coelho participei na campanha e dei-lhe todas as indicações para ele fazer os discursos. Na altura, era recepcionista da Roover e disseram-me que seria vereador da Cultura, mas houve um senhor que pagou bem para o filho assumir o cargo. Fui elemento da junta de freguesia da Sé. O presidente era um homem do PS, mas fazia algumas partidas e eu disse-lhe que não concordava com o que ele andava a fazer e ele riu-se na minha cara. Estragou tudo, avisei-o que iria dar uma entrevista ao jornal a denunciar o que estava mal e assim fiz. Da política tenho estas coisas”.

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