Na época das sementeiras, com ares de Primavera, as águas do Tejo deslizavam deslumbrantes, para os lados de Abrantes. E contagiavam tudo de esplendor, em torno de si.
À tardinha levantava-se uma aragem que acariciava as águas em manchas de ondulação, e fazia dançar os salgueiros na mesma melodia. Era então que aparecia lá longe qualquer coisa avermelhada, entra as águas cintilantes de sol e o verde da margem sul. Aproximava-se lentamente, à distância. E lentamente também, percebia-se que era uma vela latina de um vermelho debotado, quase rosa. Depois aparecia uma segunda qualquer coisa vermelha no mesmo sítio onde tinha aparecido a primeira, e à medida que a tarde se ia escoando, aparecia outra, e depois mais outra, até serem seis ou sete.
Eram os pescadores do Pego que subiam o rio ao fim da tarde, para descerem a pescar durante a noite.
Dizia-se que eram descendentes de pescadores provenientes do litoral e que ali se fixaram há muitos anos, fundando a aldeia. Não sei. Nem sei se há alguém que saiba a história ou saiba ler os registos genéticos que existem dentro de nós. O que sei é que aquela gente tinha qualquer coisa do antigo Egipto. Do Nilo.