Não foi a uma mas a uma boa meia dúzia de pessoas que ouvi dizer que o acordeão é um instrumento muito importante para o folclore. Afirmação esta que até será natural naqueles que estão à margem do mesmo, mas é um erro grave se for dita por um folclorista, pois denota um desconhecimento de saberes primários. O acordeão será importante para alguns grupos de folclore, que o usam indevidamente, mas não é um instrumento tradicional, e que acabou por ser uma imposição do fator espectáculo. É um intruso que acaba por se aceitar sem grande relutância, dado que se trata de um instrumento popular que apareceu na época de transição dos bailes campestres para os bailes das sociedades recreativas.
Todos os instrumentos tradicionais são instrumentos diatónicos (só tocam os tons naturais),enquanto os acordeões são instrumentos “cromáticos” que tocam também os meios-tons— sustenidos e bemóis. Acontece até que para além das condicionantes que caracterizam o “tradicional”— ser popular de autor desconhecido, tradicional e universal - eu continuo a considerar uma outra, a de que toda a peça que não se consegue tocar num instrumento diatónico, não é tradicional. Uma outra situação: quando se juntam acordeões e concertinas a tocar em conjunto o acordeão tem que procurar o tom da concertina. Por exemplo e no nossa caso, constata-se que o amigo Zé Gato não toca o Fadinho, mas não é por que ele não o saiba tocar, simplesmente os acordeonistas não conseguem arranjar um tom que afine. Mas se o acordeão ainda é um instrumento popular—o clarinete nem popular é.