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01 JUL 2017
10 de Junho
Por Jornal Abarca

Já foi o Dia de Camões, já foi o Dia da Raça.

Agora é o Dia de Portugal.

Para a minha geração o 10 de Junho tem a ver com a guerra do Ultramar, entre 1961 e 1974. Era neste dia do ano que o antigo regime levava a efeito grandes paradas militares, grandes cerimónias nas quais lembrava e condecorava militares, vivos ou mortos, que se tinham distinguido na guerra. Muitas vezes eram as viúvas, os filhos órfãos, os pais e as mães que compareciam à chamada. Os seus entes queridos já o não podiam fazer.

Este cerimonial era amplamente divulgado pelos meios audiovisuais existentes, rádio e televisão. Era também bastante participado. O povo português viveu esta guerra durante quatorze anos com o espírito de aceitação que o regime lhe impunha. Muitos foram os que contra a guerra se manifestaram e, com isso, sofreram na carne e na “alma” as torturas a que eram sujeitos, muitos foram também os que, emigrando, faltaram à chamada para nela participarem, assim manifestando a sua discordância. Todos merecem a nossa compreensão, estando-se de um lado ou do outro da barricada.

Em boa hora foi construído e inaugurado (1993, 1994) o Monumento aos Combatentes do Ultramar, junto ao Forte do Bom Sucesso em Lisboa. Cumprir um acto de justiça e traduzir o reconhecimento de Portugal a todos os combatentes e ainda exercer uma acção cultural e pedagógica de exaltação do amor a Portugal foram os objectivos desta obra.

Se os dois primeiros objectivos, justiça e reconhecimento, estão cumpridos, o terceiro, acção cultural e pedagógica de amor a Portugal, estão, em minha opinião, cada vez mais distantes do seu cumprimento.

A globalização em curso, a falta de identidade nacional e de valores pátrios, vão fazendo com que, cada vez mais, se note este distanciamento. A forma como o País tem sido gerido, em liberdade sim, mas com que custos para a sociedade, sobretudo para a mais carenciada de condições de vida, com os escândalos que têm, sucessivamente, vindo a lume na área financeira, administrativa, de governos locais e centrais, de empresas e de empresários, quer na vida pública, quer na privada, não podem ser motivo de orgulho, nem de exemplo. A falta de resposta a problemas prementes, o uso indevido de dinheiros públicos para satisfação de vaidades pessoais, nos mais variados níveis de governação, o desejo de ficar na “História” identificando-se a si próprio como o D. Sebastião, O Desejado, só podem conduzir ao repúdio e à repulsa, cada vez maiores, por estes actores que têm penhorado a Pátria e todos nós.

Assim, a Pátria vai definhando, sem valores, com o salve-se quem puder, com o politicamente correcto, com o silêncio e a cumplicidade de todos, com a subida ao pódio dos “Chicos Espertos”, que falam “bem”, mas apenas falam ...!

Só assim se pode compreender que a irresponsabilidade continue a ser a marca que nos amarra à vida, sem escrúpulos, sem respeito pelo outro, pois o individualismo é o valor que mais alto se levanta.

Chegámos ao ponto de, em caso de actos de guerra hostis à Pátria, não termos capacidade de defesa. Tudo porque, com a força de alguns e a indiferença de muitos, se acabou com a prestação de serviço militar obrigatório e assim, apenas com voluntários, que são cada vez menos, poderemos contar para nossa defesa. Dirão que é um cenário impensável, talvez remoto, mas é admissível. E, quando admito que posso apanhar uma doença grave, procuro prevenir-me contra esse possível acontecimento. Não me entrego somente ao cuidado do médico quando já pouco haverá a fazer.

Os tempos são de muita instabilidade e o futuro espera por nós, saibamos aguardá-lo com responsabilidade pensando em nós e nos outros, pois viajamos todos no mesmo “barco”.

Declaração de interesses: fiz serviço militar obrigatório durante 48 meses, 28 dos quais em teatro operacional da Guerra do Ultramar. 

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