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02 OCT 2017
A Pobreza da Riqueza
Por Jornal Abarca

Poderia começar por escrever o que realmente me vai na alma: que as campanhas para as eleições autárquicas, no geral, são pobres. Porque são fracas. Mas, no fundo, estas acções são ricas porque são um saco cheio de muitas coisas.

Comecemos pelos panfletos de propaganda eleitoral onde aparecem centenas de rostos que a única coisa que os une à política é o apelido de alguém que está uns lugares acima no mesmo panfleto. Uma espécie de esquema de pirâmide pois, também aqui, depende basicamente do recrutamento progressivo de outras pessoas. E, normalmente, também aqui todos vão com a esperança de conseguir lucrar com isso no futuro.

Outra riqueza que este período permite revelar são os cofres das nossas autarquias. Isto porque o partido que está no poder e se recandidata, normalmente com o edil em funções como cabeça de lista, promove uma verdadeira campanha antes de esta começar de facto. Durante o ano, sobretudo com o aproximar da data do acto eleitoral, vamos vendo por estes municípios fora um disparar gritante dos gastos em festas de verão – sempre com bandas de renome nacional presentes! –, cheques entregues às colectividades, paróquias e freguesias para obras de melhoramento de infra-estruturas, novos ou remodelados espaços inaugurados à última hora, passeios de terceira idade que se estendem dos normais 80 a 100 quilómetros de distância para viagens até ao Douro ou ao Algarve, entre outras artimanhas dos pobres de espírito mas ricos em acrobacias.

Por último, o mais angustiante de ver: os cartazes. Porque aqui não há qualquer riqueza, nem das habilidosas. São cartazes sem imaginação cheios de soundbytes pobres e que nada revelam ao eleitor: “Acreditar”, “Confiança” ou “Mudar” – entre muitos outros – dizem-nos, efectivamente, alguma coisa? Um conjunto de palavras que, como eleitor, só me provocam vergonha alheia. As pessoas querem saber de causas, projectos e ideias, de coisas concretas: mais do que ouvir, querem ser ouvidas. Que os nossos autarcas, nos próximos quatro anos, se lembrem disso.

Algures em Setembro percorria a estrada que liga Abrantes ao Tramagal quando no rádio deram informações onde relatavam um trânsito caótico com quilómetros de filas e, garantidamente, muito stress, nervos e transtorno para os condutores nas duas principais cidades do país. Enquanto isso, eu caminhava ali no meio de uma estrada rodeada pela natureza, sem qualquer carro a perturbar a minha marcha, com uma vista incrível, a respirar ar puro. Que os nossos autarcas saibam, também, potenciar a nossa região neste mandato e que entendam que isso não passa por trazer magotes de pessoas de fora promovendo a sua terra como a capital de uma qualquer coisa sem nexo: passa, essencialmente, por aumentar a qualidade de vida dos seus munícipes. Não alimentem esta pobreza de poder e não fazer para lá das campanhas.

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