Quanto vale a função desempenhada por um deputado? Se nos deixarmos conduzir pela voz do povo, aquela que hoje em dia se manifesta nas caixas de comentários dos jornais online e nas redes sociais, o valor da função de deputado é tendencialmente nulo. Os salários e subsídios que recebem deveriam ser drasticamente reduzidos. Além do mais, diz-nos essa voz que nunca se cala, se o número de deputados fosse drasticamente reduzido ainda seria pouco. Em tudo isto, claro, há um desconforto perante a democracia. O país, apesar de viver há quarenta e quatro anos em regime democrático, ainda sente dificuldades em lidar com um parlamento onde as pessoas estão lá para defender posições diferentes ou mesmo antagónicas.
Não é que os deputados sejam, moralmente, uns santos ou, tecnicamente, seres absolutamente excepcionais. Os nossos deputados são tão bons ou tão maus quanto os nossos médicos, os nossos advogados, os nossos professores, os nossos agricultores, os nossos operários e os nossos empresários. Há de tudo. No entanto, é preciso compreender a função de deputado. O que significa a existência de um regime político em que há deputados? Em primeiro lugar, os deputados representam os cidadãos eleitores. Se não houver deputados, os cidadãos não têm voz no poder. Quando se defende um corte drástico no número de deputados, estamos a defender que a representação do povo deve ser diminuída. Não me parece uma medida muito sensata. Mas este é apenas um aspecto do problema.
Costumo perguntar aos meus alunos qual é a função fundamental de um deputado. E eles lá dizem que é a de representar os eleitores e fazer a lei. É verdade, mas não é o essencial. Para compreender o valor de um deputado, mesmo daqueles que aparentemente nunca abrem a boca, é necessário perceber o que é que aconteceria se não existissem deputados. E explico a esses meus alunos que só haveria duas possibilidades. Uma, a mais benigna, é que sem deputados viveríamos em ditadura e não teríamos liberdade. A outra alternativa é bem pior. Os deputados representam-nos e resolvem os nossos conflitos através de palavras e votações. Sem eles, o que restaria para resolver os conflitos seria a violência física, a guerra civil. Os deputados estão no lugar da ditadura ou da guerra civil. E esse facto não tem preço. Aqueles que vociferam contra os deputados ou não percebem a sua função ou, então, desejam o pior para o país, o fim das liberdades e, em casos mais graves, a guerra civil. Os deputados podem não ser grande coisa, como todos nós, mas enquanto existirem, seremos livres e não nos mataremos nas ruas. E isso não é pouco.
