Nasceu a 21 de Janeiro de 1954 em Évora de Alcobaça, e é Bispo de Santarém desde 25 de Novembro de 2017. Neste Natal aborda várias temáticas da Igreja e da sociedade, deixa uma mensagem de fé e esperança e um apelo para que façamos um mundo melhor todos os dias no lugar onde vivemos.
Qual é para si o maior prazer em ser sacerdote?
Podemos falar mais em alegria. O prazer é uma coisa que passa depressa, é algo momentâneo. Neste serviço há uma alegria, que se centra em estarmos a fazer algo de bem e por bem. No fundo, é assumir a missão da vida totalmente para os outros. Quando nos colocamos neste registo, de facto, é uma graça porque não precisamos de estar à espera da eternidade para termos a recompensa. Há uma recompensa de alegria, de plenitude e de paz por aquilo que se vai fazendo. A beleza desta vida está bastante nesta alegria. (...)
Quais são os maiores dramas sociais que a Igreja enfrenta?
Actualmente há uma cultura em que não se respeita a vida do semelhante. A par da pobreza, as preocupações maiores neste momento são a violência doméstica e o abuso sobre as crianças. Em 15 anos morreram 500 mulheres em Portugal vítimas de violência doméstica, no último ano em Santarém registaram-se 1000 queixas e morreram duas mulheres. Isto é preocupante! A questão dos abusos das crianças é o pecado mais grave que se pode imaginar… é marcar uma perturbação na mente de uma pessoa para o resto da vida. Uma pessoa abusada demora cerca de 20 anos a falar desse assunto, tal é o mal que a atingiu. (…)
Mas é possível viver sem ter fé?
Há pessoas que não vivem à luz da fé mas cultivam uma sabedoria de vida. E ainda bem! Porque falta a muita gente essa sabedoria de vida. Não basta só rezar, pois se a pessoa não avaliar e não corrigir, nunca evolui. Fica pior, há um retrocesso! O bom fiel é aquele que faz avaliações, por aquilo que faz por si, pela sua família e pela comunidade em que se encontra, porque isto no fundo é uma rede em que todos interagimos. (…)
Para terminar, que mensagem nesta época de Natal quer deixar aos nossos leitores?
Convido a que celebremos o Natal não apenas porque está no calendário ou porque tem de ser, mas admitir que Deus é surpreendente e podem surgir graças e, portanto, não nos deixemos ficar no cansaço ou cilindrados por alguma coisa menos boa e nos mantenhamos na confiança, na esperança e nesta abertura à dimensão espiritual. Deus no Natal dá-nos uma mensagem muito bonita que é a capacidade de no meio da pobreza acontecerem maravilhas. A contemplação do presépio deve inspirar-nos: precisamos dos bens e do dinheiro, mas tem de haver o cuidado de saborearmos o essencial da vida que é o prazer de viver, de estarmos uns com os outros, com a família. Se não cultivarmos esse bem maior, então vivemos iludidos. Isto é o essencial: o amor e a vida estão aqui. E isso é inspirador.
Poderá ler o resto da entrevista na edição em papel do Jornal Abarca, disponível nos postos de venda habituais.