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21 DEZ 2020
REPORTAGEM - Culturas do Pinhal Interior Sul
Por Jornal Abarca

José Saldanha Rocha que considera que medronheiros e limoeiros “são espécies para potenciar economicamente o território e ajudar a criar riqueza para o país”.

Os concelhos de Mação, Oleiros, Proença-a-Nova e outros territórios do Médio Tejo e da beira meridional têm excelentes condições edafoclimáticas para a produção de limões e medronhos, e essas são culturas em que os agricultores devem apostar. Esta é a opinião fundamentada do presidente da Assembleia Municipal de Mação, José Saldanha Rocha que considera que “são espécies para potenciar economicamente o território e ajudar a criar riqueza para o país”.

Perto da vila de Mação, o lugar da Bufareira, conhecido por ser lá que dantes se produzia o vinho tinto que o Marquês de Pombal mais apreciava e exigia à sua mesa na corte, é agora o território onde Manuel Saldanha Rocha, engenheiro agrónomo e filho do autarca, acaba de implantar um pomar de quatro hectares, cedidos por 50 anos pelo avô, que acolhe cerca de 3 000 limoeiros alinhados ao longo de uma vasta área de colina e várzea.

“Um dia, em 2003, o presidente da Junta de Mação, Abílio Barbeiro, chamou-me à atenção do potencial para a produção citrínica natural de locais como Santos e o Castelo, e que o município devia fazer alguma coisa na sua promoção”, conta José Saldanha Rocha. Depois da sua saída da Câmara de Mação em 2013, Saldanha passou a dedicar-se ao apoio dos produtores locais, recebendo os citrinos na vila e distribuindo-os por comerciantes que os vendem ao público em Lisboa. 

“Há 50 anos, os limões eram apanhados e iam em camionetas para a sua venda noutros locais. Havia olheiros experientes que vinham ver os limoeiros ainda em flor e pagavam pelo que viam. Sabiam ler as árvores antecipadamente, ver qual seria a produção e pagar por ela”, diz, notando todavia que, nesta altura, este potencial estava abandonado, a produção teria de mudar de escala, e passar para uma visão mais ampla. Curiosamente, foi o filho Manuel que o ajudou a que esta certeza subjetiva fosse real. “Até agora, eu tenho ido aos quintais, apanho os limões, levo-os para Lisboa, distribuo-os por pequenos comerciantes, e depois a receita distribuo-a”, diz o edil, notando que este tem sido o novo ciclo da sua vida. 

Manuel, jovem, e pressentindo que deveria fazer a sua aposta em Mação, sentiu que o investimento nos limoeiros só seria proveitoso se fosse feito em grande escala. Pensou inicialmente numa área de sete hectares, mas algumas dificuldades na negociação de terras, limitaram a aposta aos quatro hectares numa área repleta de mato, na Bufareira. O terreno foi desmatado, e deu agora lugar a um vasto pomar alinhado e com baixo consumo de água de 3 000 limoeiros, capaz de produzir 150 toneladas de citrinos por ano. E tem a particularidade de possuir quatro variedades de árvores citrínicas implantadas serem baixas para permitirem a recolha do fruto à mão (provavelmente feito por equipas de trabalhadores do Nepal e do Bangladesh - ali, os portugueses em idade ativa também emigraram…) e durante nove ou dez meses por ano, e não ficar limitada a um período mais curto, o que traz óbvias vantagens.

Mas a aposta de Manuel Saldanha num pomar extensivo de limões num local como a Bufareira, apesar da sua viabilidade económica e de se constituir como uma área tampão de defesa contra os fogos florestais, tem sido complexa e exigente, não só sobre o aspeto financeiro, como também pelo lado logístico, já que a rede elétrica da EDP não chegava ao local. Teve de implantar um complexo de painéis solares, solicitar a sua ligação à rede elétrica para poder usar a energia produzida, implantar um vasto reservatório de água e contratar uma grande empresa para a instalação dos 3 000 pés de limoeiros. Neste percurso para chegar a uma macroescala encontrou dificuldades, muitas despesas imprevisíveis, contratos leoninos (em que fez a parte de cordeiro – já que é obrigado, por exemplo, a oferecer energia à EDP), burocracia e bastante atraso nos apoios. Por outro lado, a introdução do novo pomar na Bufareira já está, segundo José Saldanha Rocha a ter um impacto ambiental, “há novas plantas e novas aves no local, e a União Europeia pede que se façam os registos das ocorrências para se ter um melhor conhecimento dos efeitos da criação do pomar”. Há ainda a ameaça real dos javalis para o pomar, mas o autarca diz que a “colocação de cabelo humano dentro de garrafas e borras de café podem ter um eficaz efeito de afugentar os javalis”.

Outro fruto para o qual as condições de solo e de clima do Pinhal Interior Sul estão vocacionadas é o medronho, uma espécie autóctone do nosso país. Vários investimentos privados têm sido feitos ultimamente no setor, sobretudo em Oleiros, e, além do fruto em fresco e da produção da famosa aguardente de medronho em destilarias devidamente legalizadas, os produtores destas bagas comestíveis e com alguns efeitos medicinais estão agora a apostar em infusões e compotas de medronho, no gim (estimulado por uma empresa de Alcobaça), e na farinha para fazer pão. “O negócio é interessante, permite rendimentos pequenos, mas apetecíveis, às famílias, e há ainda o aspeto de o medronheiro ser também resistente ao fogo. Intercalando-se os pomares de medronheiros na floresta de pinhal e eucalipto, servem de zona tampão e opõem-se à sua propagação”, diz José Saldanha Rocha, bastante crítico em relação à classe política que “não dá valor a não conhece estas realidades porque não as vive, e é pena, pois, com outros olhos, havia aqui riqueza para o país, e impostos que o Estado podia recolher”. O autarca critica ainda a classe política de, com as suas reprogramações do Portugal 2020, já aprovadas em Bruxelas, levarem os apoios, que deviam apoiar o Interior e procurar a coesão territorial do país, para investir em grandes infraestruturas, como os metros de Lisboa e do Porto, a modernização da linha de Cascais e o sistema de mobilidade do Mondego.

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