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08 MAR 2021
EDITORIAL | "Do Tudo ao Nada", por Margarida Trincão
Por Jornal Abarca

Nada disto parece real. De um tempo, para nós interminável, em que livremente saíamos de casa para a nossa vida normal, fosse ir trabalhar, passear ou beber um copo ao fim da tarde numa esplanada bafejada pelo sol, vestimo-nos de máscaras, de olhares revezes, de dúvidas. Esquecemos os abraços, os francos apertos de mão, os beijos de despedida.

Nada disto é novidade e é bom que percebamos todos que há coisas com que não se brinca. São demasiado sérias e graves, sem o menor resquício de sentido de humor.

Criámos medos e desconfianças. Esperamos, por vezes como a única réstia de luz que nos é permitida, que os tempos mudem.

Que consigamos criar imunidade de grupo e que possamos voltar a circular sem reservas. Mas até lá, ditam as boas práticas que fiquemos em casa e suportemos as angústias e neuroses do confinamento. 

Tentamos a tudo o custo desenvolver o nosso sistema imunológico, condição sine qua non para resistirmos às covids do novo mundo.

Depois de uma época de aquisição de alimentos processados que só necessitam de um pouco de calor, em alguns casos, e estão prontos a servir; de produtos importados, vindos lá do cabo do mundo só porque eram novidade, passamos para o extremo oposto. É tudo tão controlado que na bancada da cozinha começa a ser imprescindível um papel e uma caneta para anotar a qualidade e quantidade de nutrientes que confeccionamos. Com o tempo voltaremos a encontrar o equilíbrio.

Eu que nasci na aldeia, lembro-me que havia tomate todo ano. O chamado tomate de inverno que se conservava em tabuleiros rede. Dos cachos de uva pendurados nas traves ou do melão casca de carvalho que durava meses e meses… Os restantes eram consumidos na época. E são muitos os adágios a comprovar estas boas práticas: “favas, Maio as dá, Maio as leva”, “Se queres o teu homem morto, dá-lhe couves em Agosto”.

Depois, bom depois veio a norma de comer qualquer fruto da terra, fosse qual fosse a época e novos sectores da economia se desenvolveram. Numa espécie de “pescadinha de rabo na boca”, a publicidade cria a necessidade, e a procura gera novas ofertas.

As covids e muitos dos males que nos assolam nascem de um constante desrespeito pelo que nos rodeia. Somos deste planeta. A natureza tem as suas próprias regras que não obedecem a decretos. Tentar contrariá-las acarreta uma parafernália de consequências que só após muitas mortes e muita dor conseguiremos atenuar. 

É certo que os seres vivos nascem, crescem e morrem. Animais ou vegetais. Mas era bom que pudéssemos morrer de cara destapada.

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